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quarta-feira, janeiro 14, 2004

Não Te Amo

Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma
E eu n'alma tenho a calma,
A calma do jazigo.
Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te; o amor é vida
E a vida nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai! não te amo não.

Ai! não te amo não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela (belo); e eu não te amo, ó bela (belo)
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amor! ... não te amo, não.


by: Almeida Garrett (in "folhas caídas")




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