sexta-feira, março 26, 2004
Crónicas do Nada - Um Minuto
Arranco o carro no desespero do atraso. Olho o relógio, olho a estrada. Contorno os carros com precisão e mestria, ziguezagueando entre eles à medida que progrido. O objectivo é claro. Chegar a ti. Estou atrasado hoje, aquele último cliente demorou em demasia e eu não consegui antes desmarcar-lhe a consulta, escusado será dizer que mal o ouvi. Agora luto desesperadamente contra o relógio e contra o trânsito para ainda te conseguir ver hoje... nem sei o porquê desta minha obsessão. Talvez sinta que ainda esmorece mais o nosso amor quando não nos vemos... talvez te sinta escapulir ainda mais por entre os dedos... só sei que há esta imensa necessidade de te ver...
"- Amar não é ter medo de se perder uma pessoa... -" dizias tu... dizias que o verdadeiro amor não podia nunca ser medido pela falta que as pessoas fazem umas às outras mas sim pelo bocadinho de felicidade que se dá à pessoa que se ama, pela devoção com que nos escutamos, nos completamos, nos tornamos cúmplices. Fácil para ti falar... não estás apaixonada por ti como eu estou. Não sofres como eu a incerteza de um amor em fase terminal. Como um doente sem cura agarrado a uma última réstia de esperança, demasiado desorientado pela dose de morfina que disfarça a dor... o teu sorriso...
"- Merda... mais um sinal vermelho! -" O mundo inteiro conspira no meu atraso, contra mim... carros acidentam-se barrando o trânsito, velhinhas atravessam vagarosamente nas passadeiras, o condutor do carro que vai à minha frente conversa vagarosa e distraidamente ao telemóvel, até a polícia saiu toda à rua hoje para controlar a minha velocidade. Tudo me parece puxar para longe de ti, como mãos invisíveis que me puxam pela roupa, pelos braços, pelo cabelo, que me prendem, me seguram. Será isto o destino?
Chego finalmente ao lugar combinado. Tu saíste um minuto mais cedo e eu cheguei um minuto mais tarde. Um minuto, tudo quanto basta para mudar uma vida, para decidir um destino, para dar um beijo ou trocar um olhar. O tempo consegue mesmo ser uma coisa relativa, apologia da teoria de Einstein ao rubro. Mas contrariando-o, porque por muito mais depressa que eu consiga ir, há coisas no tempo que, como o próprio tempo, não é possível retroceder. Mas também, se pudesse voltar atrás... será que mudava alguma coisa mesmo? Será que tudo não terá o seu lugar? A sua lógica...?
Fico parado com estas divagações na mente. Como o semáforo imóvel plantado na estrada. Maldito minuto, maldito relógio, maldito tempo... Tudo o que eu queria era apanhar o teu sorriso nem que fosse de relance, nem que fosse num segundo... maldito tempo... maldito segundo... maldito sorriso...
É com isto que estou quando me apercebo das horas... já estou atrasado para outra coisa qualquer.
Arranco o carro no desespero do atraso. Olho o relógio, olho a estrada. Contorno os carros com precisão e mestria, ziguezagueando entre eles à medida que progrido. O objectivo é claro. Afastar-me de ti...
Arranco o carro no desespero do atraso. Olho o relógio, olho a estrada. Contorno os carros com precisão e mestria, ziguezagueando entre eles à medida que progrido. O objectivo é claro. Chegar a ti. Estou atrasado hoje, aquele último cliente demorou em demasia e eu não consegui antes desmarcar-lhe a consulta, escusado será dizer que mal o ouvi. Agora luto desesperadamente contra o relógio e contra o trânsito para ainda te conseguir ver hoje... nem sei o porquê desta minha obsessão. Talvez sinta que ainda esmorece mais o nosso amor quando não nos vemos... talvez te sinta escapulir ainda mais por entre os dedos... só sei que há esta imensa necessidade de te ver...
"- Amar não é ter medo de se perder uma pessoa... -" dizias tu... dizias que o verdadeiro amor não podia nunca ser medido pela falta que as pessoas fazem umas às outras mas sim pelo bocadinho de felicidade que se dá à pessoa que se ama, pela devoção com que nos escutamos, nos completamos, nos tornamos cúmplices. Fácil para ti falar... não estás apaixonada por ti como eu estou. Não sofres como eu a incerteza de um amor em fase terminal. Como um doente sem cura agarrado a uma última réstia de esperança, demasiado desorientado pela dose de morfina que disfarça a dor... o teu sorriso...
"- Merda... mais um sinal vermelho! -" O mundo inteiro conspira no meu atraso, contra mim... carros acidentam-se barrando o trânsito, velhinhas atravessam vagarosamente nas passadeiras, o condutor do carro que vai à minha frente conversa vagarosa e distraidamente ao telemóvel, até a polícia saiu toda à rua hoje para controlar a minha velocidade. Tudo me parece puxar para longe de ti, como mãos invisíveis que me puxam pela roupa, pelos braços, pelo cabelo, que me prendem, me seguram. Será isto o destino?
Chego finalmente ao lugar combinado. Tu saíste um minuto mais cedo e eu cheguei um minuto mais tarde. Um minuto, tudo quanto basta para mudar uma vida, para decidir um destino, para dar um beijo ou trocar um olhar. O tempo consegue mesmo ser uma coisa relativa, apologia da teoria de Einstein ao rubro. Mas contrariando-o, porque por muito mais depressa que eu consiga ir, há coisas no tempo que, como o próprio tempo, não é possível retroceder. Mas também, se pudesse voltar atrás... será que mudava alguma coisa mesmo? Será que tudo não terá o seu lugar? A sua lógica...?
Fico parado com estas divagações na mente. Como o semáforo imóvel plantado na estrada. Maldito minuto, maldito relógio, maldito tempo... Tudo o que eu queria era apanhar o teu sorriso nem que fosse de relance, nem que fosse num segundo... maldito tempo... maldito segundo... maldito sorriso...
É com isto que estou quando me apercebo das horas... já estou atrasado para outra coisa qualquer.
Arranco o carro no desespero do atraso. Olho o relógio, olho a estrada. Contorno os carros com precisão e mestria, ziguezagueando entre eles à medida que progrido. O objectivo é claro. Afastar-me de ti...
by: João Natal
(Mais um magnífico texto deste excelente autor que eu tanto admiro...)
night 2 by Yap Kung Leng
(Mais um magnífico texto deste excelente autor que eu tanto admiro...)
night 2 by Yap Kung Leng