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domingo, fevereiro 10, 2008

"A Lição de IKTUMI"

"Iktumi é a palavra lakota para 'aranha'. A Iktumi é considerada traiçoeira e mentirosa. Iktumi pode levar as pessoas a acreditarem em coisas que não são verdade. É muito perigosa por causa do seu poder. A Iktumi possui uma aptidão especial para arruinar a vida de qualquer pessoa."

[David era um jovem atormentado pelo sofrimento. O seu coração conhecia a dor, profunda e avassaladora, criando em si o profundo desejo de encontrar a felicidade. A sua viagem proporcionou-lhe descobertas incríveis...]

"O Homem das Montanhas sorria à medida que David subia a encosta. No rosto do jovem transparecia uma expressão perturbada. Ainda continuava triste; a viagem parecia não o ter ajudado.
- Encontraste o que precisavas? - perguntou-lhe o Homem das Montanhas.
- Não tenho a certeza. Fiz a pergunta a todos com quem me cruzei. Muitos deles deram a mesma resposta. No entanto, parece-me que nenhum deles me ajudou. Continuo a não me sentir melhor que antes.
- Achaste oito maneiras diferentes de ser feliz?
- Tomei nota delas mas não fiquei mais esclarecido do que quando saí daqui.
- Ah, isso ficaste. Só que ainda não percebeste (...). Conta-me o que aprendeste.
- Quer que lhe diga como ser feliz?
O homem sorriu.
- Podes dizê-lo dessa forma se o desejares.
David pensou por um breve momento na maneira correcta de começar e principiou:
- Quando saí daqui, dirigi-me à cidade. Depois de andar às voltas durante uma hora encontrei uma pessoa que quis responder à minha pergunta. Era um homem mais velho que vivia perto da cidade. Era muito pobre. A casa em que morava estava a cair aos bocados. Contou-me que não ia poder comer enquanto não recebesse o cheque da pensão do Estado. Quando lhe perguntei de que forma poderia ser feliz, respondeu que se tivesse mais dinheiro, então seria feliz.
- Até que ponto é que essa resposta te impressionou? (...)
- Incomodou-me.
O homem sorriu de novo.
- Óptimo. Afinal aprendeste. Diz-me, por que motivo te incomodou?
-Para mim, não fazia qualquer sentido. Tenho a certeza de que ele acreditava no que afirmava, todavia o dinheiro não nos pode tornar felizes. Podemos utilizá-lo para adquirir as mais diversas coisas, mas não o podemos usar para comprar a felicidade.
- Tens razão, meu jovem amigo. O desejo da riqueza como meio de se ser feliz já eu ouvi muitas vezes, não obstante o facto de não ser verdade. As pessoas têm de perceber que é a sua conduta que deve ser enriquecida e não as suas carteiras. Na vida das pessoas o dinheiro só tem a importância que elas lhe derem. Qualquer pessoa pode ser feliz, se quiser, sem dinheiro. A felicidade não tem os seus filhos predilectos, mas não pode ser comprada com riquezas materiais.
- Eu sei - afirmou David enquanto assentia com a cabeça. - Muitas pessoas pobres com quem me cruzei eram tão ou mais felizes que as ricas. Na verdade, ouvi, ao longo da minha viagem, uma história sobre um homem rico que se suicidou. Se uma pessoa somente precisasse de dinheiro para ser feliz, explique-me, então, por que é que ele se matou.
- É uma coisa que não pode ser explicada, a menos que percebamos e acreditemos que a felicidade não depende do dinheiro, depende de nós e da nossa atitude perante a vida! Adiante. Qual foi a segunda resposta que obtiveste?
- Fama. Encontrei uma pessoa que me disse que se fosse famoso, seria feliz. Sabe, ele queria ser uma estrela de cinema.
- Ah, sim. A fama significa muito para muita gente. Esta resposta fez algum sentido para ti?
- Não. Essa resposta incomodou-me tanto quanto a primeira.
- Porquê?
- Pelas mesmas razões. A fama não faz as pessoas felizes; se assim fosse, então todas as pessoas famosas seriam felizes. No entanto, existe muita gente famosa que não é feliz. Na minha opinião, a fama traz muitas responsabilidades e algumas vantagens, mas não nos torna felizes.
- Tens razão mais uma vez. A felicidade vem de dentro das pessoas, não do que elas fazem ou do que são. Temos de nos aperceber e acreditar que podemos ser felizes sendo ou não famosos. A felicidade está disponível para todos. Não depende do número de pessoas que conhecemos! Não é a panaceia que devemos procurar se queremos ser felizes. Quando somos felizes, não precisamos de fama. Mesmo sendo famosos, a felicidade vem de dentro de nós, não da fama. E agora, qual foi a terceira resposta que te deram?
- Bom, nesse mesmo dia, mais tarde, conversei com uma mulher ainda jovem que vivia sozinha na cidade. Perguntei-lhe se o dinheiro e a fama a fariam felizes, e ela disse que não. O dinheiro e a fama nada significavam para ela, tinha quase tudo o que queria. Contudo, estava muito deprimida apesar de todas as coisas boas que tinha na vida e disse que nunca seria feliz até obter uma coisa que desejava muito. Disse que se encontrasse a pessoa certa com quem casar, então seria feliz.
- Achas que ela estava certa?
- Não, não acho. Ter o parceiro certo é muito importante, mas não considero que ele nos possa fazer felizes o tempo todo. Já antes conhecia pessoas, e até encontrei uma na minha viagem, que amavam os seus cônjuges, mas a quem só isso não fazia felizes.
- Dizer que outra pessoa nos pode fazer felizes é uma grande injustiça para nós próprios. É o mesmo que dizer que alguém detém o controlo das nossas emoções. Mas aquele que conhece sua alma sabe que não é verdade. O sentimento de felicidade vem de dentro de nós, não de qualquer outro lugar. Apenas nós, e exclusivamente nós, somos o instrumento de controlo dos nossos sentimentos. Fala-me dessa pessoa que encontraste na tua viagem e que tinha um bom casamento. Disseste que ela era infeliz?
- Bom, tal como afirmei, ela disse-me que amava o marido, que era o mais perfeito dos homens que alguma vez podia ter imaginado. Contudo, não se sentia bem com a sua vida; portanto, perguntei-lhe o que significava para ela ser feliz.
- E o que disse ela?
- Disse que seria feliz se tivesse mais amigos, Desde pequena que sempre sonhara em ser uma pessoa popular, mas que não tinha muitos amigos. Contou-me que se sentia muito sozinha apesar de ter um bom casamento.
- Ter amigos nada tem a ver com o ser-se feliz, excepto pelo facto de que se formos felizes, teremos mais amigos. É como as outras coisas que as pessoas acreditam serem necessárias para alcançar a felicidade; e estas coisas negam a essência da sua própria beleza. As pessoas partem do princípio de que têm de possuir algo antes de serem felizes, como se a felicidade tivesse de ser conquistada ou merecida. Nada poderia estar mais longe da verdade. Ao fim e ao cabo, temos de perceber que podemos ser felizes sem amigos nenhuns, e que ter amigos não nos garante a felicidade.
- Aprendi, com a pessoa que encontrei a seguir, que ter uma grande quantidade de amigos não é sinónimo de felicidade. Esta mulher era muito popular entre os amigos. Tinha mais amigos do que qualquer outra pessoa que encontrei na minha viagem.
- E era feliz?
- Não, na realidade não era. Era simpática e amável. Até me convidou para jantar na casa dela. Pude entender por que era tão querida; parecia gostar de toda a gente tanto quanto gostavam dela. Era mais popular do que qualquer outra pessoa que jamais conheci. No entanto, quando perguntei se era feliz, disse-me que não.
- Por que é que ela disse isso?
- Bem, havia de a ter visto. Sabe, ela é muito gorda, e a cara dela está cheia de marcas da varicela que teve na infância. Disse que seria feliz se fosse mais bonita. Acrescentou que, quando está sozinha, se farta de chorar. Tentei convencê-la de que o aspecto físico não tem tanto valor quanto a afabilidade para com os outros, mas não consegui, não quis dar-me ouvidos.
- É muito triste quando as pessoas não conseguem aceitar-me como são. Ainda é pior quando acham que precisam de mudar alguma coisa para serem felizes. A beleza não consegue tornar ninguém feliz; até mesmo pessoas muito belas têm de aprender a ser felizes. E quando se quer ser feliz, pode-se sê-lo; não se é excluído pelo aspecto que se tem.
Lenta, mas firmemente, David pensou que estava a começar a entender de que forma a felicidade estava relacionada com a Iktumi, a aranha mais traiçoeira. Ainda não percebia tudo, mas sabia que iria compreender a breve trecho.
- Que fizeste depois que a deixaste?
- Bom, estava a fazer-se tarde, portanto procurei um celeiro onde pudesse dormir. Foi aqui que encontrei outro homem. Foi muito triste. Era cego e uma das suas pernas tinha sido amputada durante a Segunda Guerra Mundial. Vivia das esmolas que lhe davam nas ruas e sentia-se muito infeliz com a sua vida. Disse que, se não fosse fisicamente deficiente, seria feliz.
- A saúde física é uma coisa que muita gente tem como certa. Os simples prazeres de caminhar ao sol, de escutar o marulhar de um rio ou observar o encanto de um pôr-do-sol são experiências que para muitos não passam de sonhos. Todas as pessoas capazes deviam concentrar-se no que têm e arranjar tempo para gozarem esses prazeres simples. Ajudá-las-ia a avaliar o quão especial é a vida. Não obstante, estas pequenas coisas nada têm a ver com a felicidade ou a infelicidade de uma pessoa. Uma incapacidade física não tem que estragar a vida de alguém. A felicidade não é exclusiva daqueles que gozam de perfeita saúde. Apesar de todas as limitações físicas do mundo, podemos ser felizes se for essa a nossa vontade. Quero que compreendas que a felicidade é um sentimento que vem de dentro para fora, e que nada do que te aconteça tem necessidade de afectá-lo.
- Estou a começar a entender isso agora.
- Também já começaste a perceber o objectivo da tua viagem, quer te dês conta disso ou não. Encontraste a sétima resposta no dia seguinte?
- Deparei com uma jovem que estava a vender a casa. Disse que tinha demasiadas recordações. O marido tinha morrido. Disse que seria feliz se o esposo não tivesse falecido.
- É o mesmo motivo por que te tens sentido infeliz. Deves ter entendido exactamente como ela se sentia.
- Sim, entendi.
- A morte... tem causado receio na nossa sociedade desde que o homem é homem. No entanto, não é o fim da vida; é o princípio de uma nova vida. As pessoas deviam perceber que alguém que morreu não desapareceu; esse alguém transformou-se em algo muito mais grandioso. E as recordações podem manter viva essa pessoa, neste nosso mundo, muito mais tempo do que tu ou eu possamos viver. As pessoas têm de começar a perceber estas coisas. A seu tempo, a dor será substituída pela emoção que escolhermos. E, independentemente do que pensamos, podemos ser felizes outra vez. Talvez não logo de seguida, mas seguramente com a passagem do tempo. Se duvidares do que te estou a dizer, faz a ti mesmo esta pergunta: Acreditas, sinceramente, que o teu ente querido que morreu quer que sejas infeliz? Se a resposta for negativa, então tens de fazer um esforço para voltares a ser feliz e honrar essa pessoa. Diz-me qual é a última forma de ser feliz?
- Demorei a maior parte do dia, mas encontrei alguém com um motivo diferente. Disse que estava preocupado com a paz, que se preocupava com o ambiente, que se preocupava com tudo. Afirmou que se tudo isso fosse alterado, então seria feliz.
- Achas que essa pessoa tinha razão?
- Não. Os motivos eram os mesmos de todos os outros. A felicidade não depende do que acontece pelo mundo fora; depende da nossa própria percepção. As pessoas podem ser felizes se o desejarem.
(...)
As coisas que a Iktumi promete não conseguem fazer as pessoas felizes. E assim, todas as pessoas deviam, ao invés, substituir as mentiras da Iktumi pela verdade. A verdade é bela e, no entanto, simples: só nós próprios somos responsáveis pela nossa felicidade. Só nós controlamos os nossos sentimentos. Só nós podemos construir a nossa felicidade. Não há nada que o possa fazer por nós. Por outro lado, também deveríamos dedicar algum tempo a reflectir e a perceber que temos muitos tesouros valiosos, coisas a que podemos chamar só nossas. Cada um de nós tem, neste mundo, algo para oferecer. Dediquemos algum tempo a apreciar o que, de facto, temos na nossa vida, não nos centremos naquilo que não temos. Compreendamos que nós, bem como as outras pessoas, somos o ser mais especial jamais criado. Se não tivermos mais nada, temos a nossa vida que podemos escolher levar como quisermos. Uma vida em que os nossos sonhos se podem tornar realidade. Uma vida em que podemos ser felizes se o desejarmos, independentemente do que nos acontece ou não."

(in "Uma Viagem Espiritual", de Billy Mills / Nicholas Sparks)

















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